São Paulo - Dezoito anos antes do início das investigações da Operação Lava Jato, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) chegou a ser alertado de que a Petrobras era palco de um escândalo de corrupção.
A informação é revelada pelo próprio ex-presidente da República no livro “Diários da Presidência - volume 1", que será lançado no próximo dia 29.
Segundo o relato, narrado pelo jornal O Globo, a informação foi repassada a FHC por Benjamin Steinbruch, dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), no dia 16 de outubro de 1996 – portanto, 18 anos antes da deflagração da primeira fase da Lava Jato, que descobriu o esquema de corrupção na estatal.
“Eu queria ouvi-lo sobre a Petrobras. Ele me disse que a Petrobras é um escândalo”, afirma o ex-presidente no livro, feito com base em gravações feitas pelo tucano à época.
No texto, FHC sugere que o Orlando Galvão Filho, que foi presidente da BR Distribuidora e diretor-financeiro da Petrobras, era quem “manobrava” o esquema.
"Acho que é preciso intervir na Petrobras. O problema é que eu não quero mexer antes da aprovação da lei de regulamentação do petróleo pelo Congresso, e também tenho que ter pessoas competentes para botar lá", afirmou.
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco - um dos principais delatores do esquema -  afirmou que começou a receber propina em 1997 ou 1998 quando ocupava o cargo de gerente de tecnologia de instalações na diretoria de Exploração e Produção na Petrobras.
Segundo ele, o pagamento se tornou sistemático entre 2000 e 2003. Durante este período, a propina era paga mensalmente e os valores variavam de US$ 25 mil a US$ 50 mil por mês. No total, ele calcula ter recebido cerca de 22 milhões de dólares em pagamentos de propina da empresa holandesa SBM.
Sem papas na língua 
Em outro trecho do livro, FHC relata que recusou um pedido para que o hoje presidente da Câmara, Eduardo Cunha,  fosse nomeado diretor comercial da Petrobras, de acordo com excerto publicado pela Revista Piauí. 
"Imagina!" E alegou: "O Eduardo Cunha foi presidente da Telerj, nós o tiramos de lá no tempo de Itamar (Franco, ex-presidente da República) porque ele tinha trapalhadas, ele veio da época do Collor. Eu fiz sentir que conhecia a pessoa e que sabia que havia resistência, que eles estavam atribuindo ao Eduardo Jorge; eu disse que não era ele e que há, sim, problemas com esse nome. Enfim, não cedemos à nomeação."
O presidente da Câmara nega a versão. 
O ex-presidente também conta que o hoje vice-presidente da República, Michel Temer, pediu ajuda para nomear o afilhado, segundo informações do jornal Folha de S. Paulo. O pedido teria sido feito depois que o peemedebista, então deputado federal, apoiou uma reforma administrativa protagonizada pelo governo. Veja:
"O Luís Carlos Santos me disse no caminho do Planalto para o Alvorada que o Temer precisa de um acerto pessoal, quer indicar alguém para a Portus (...) É sempre assim. Temer é dos mais discretos, mas eles não escapam. Todos têm, naturalmente, seus interesses."